Inovar e repetir formam uma das muitas dicotomias que regem o mundo automotivo. Muitos costumam pensar que somente a primeira merece valor, mas o fato é que para certas situações não há estratégia melhor que seguir um caminho que já se considera seguro. A Citroën bem que tentou, mas a primeira fase do C4 nunca conseguiu converter todo o seu potencial em vendas. Agora, depois de uma renovação mais conservadora, a melhoria nos resultados parece ter ensinado aos franceses qual é a maneira em que eles podem voltar a se soltar.
Quando se compete em um mercado de muitos concorrentes, destacar-se é fundamental. Um automóvel pode ter as melhores características de conforto, tecnologia ou desempenho, mas se não tem aquele algo a mais termina fadado ao ostracismo das vendas medianas – baixas demais para incomodar seus rivais, mas elevadas demais para motivar a montadora a alterá-lo a curto prazo. Como o C4 Pallas não conseguiu emplacar seus atrativos – o que se costuma atribuir principalmente ao seu design –, a Citroën procurou desenvolver seu sucessor “ao contrário”. O Lounge trocou as excentricidades gerais por um conjunto mais formal e maduro, mas o fato é que isso não poderia ter lhe caído melhor.
Em vez de virar pescoços por onde passa, o C4 três-volumes agora encanta quem busca conhecê-lo “por dentro”. Ele procura se situar na média dos concorrentes diretos no máximo que pode, e isso termina atraindo a muitos – no Brasil, mais de oito mil desde o lançamento, segundo a Citroën. Então, hoje é possível dizer que os franceses pelo menos começaram a acertar a mão com essa categoria de carros por aqui. Ainda é preciso manter a cautela, para não arriscar o que já se conseguiu, mas também já há algum espaço para a criatividade. Com isso, a empresa parece ter aplicado tudo o que veio aprendendo nos últimos anos: a linha 2015 do C4 Lounge não só continuou a evitar os exageros, como criou uma nova chance de agradar seu público em cheio.
Seu maior destaque é a versão Tendance THP, que chega custando R$ 76.690. Ela não faz mais que combinar o nível de acabamento ao motor indicados em seu nome, mas é justamente isso que lhe torna tão interessante: ela permite alcançar o 1.6 16v turbinado, que faz muita gente preterir o 2.0 16v flexível sem pensar duas vezes, mas sem a obrigação de pagar o custo elevado da versão Exclusive, que até então era a única com ele. O cliente ganha mais uma opção, que para muitos será a ideal, e a empresa pode aumentar a produção do trem-de-força de maior custo. Por outro lado, quem já havia se decidido por outra versão pode continuar tranquilo: todas as outras continuam intactas, pelo menos até agora.
Para quem não conhece o tal motor THP, ele foi desenvolvido pelo Grupo PSA em parceria com a BMW. Conta com bomba eletrônica de alta pressão, bomba de óleo com gestor de vazão, cárter duplo, duplo comando de válvulas, injeção direta sequencial, turbocompressor Twin-scroll. Gera 165 cv de potência e 24,5 de torque, usa sempre o câmbio automático de seis marchas, acelera de 0 a 100 km/h em 8,2 segundos e alcança o máximo de 214 km/h. Entre os itens de série da novidade estão alarme, ar-condicionado bizona, bancos e volante em couro, central de entretenimento com tela de 7”, LEDs diurnos, navegador GPS, retrovisor eletrocrômico, sensores crepuscular e de chuva e volante multifuncional.