Com muita discrição, a Peugeot brasileira vem reduzindo pouco a pouco a participação da família 207 em suas operações. Esses veículos nunca chegaram a atrair a atenção de quem não se interessa pelo mundo dos carros, e nos últimos anos compuseram uma coleção de opiniões negativas de quem tem o tal interesse, mas outro fato é que o passado dessa linha foi muito melhor. Este sobe-e-desce foi justamente o que conseguiu familiarizar tanto o nosso público com a Peugeot como a marca com os gostos exclusivos do brasileiro.
Lembranças mais agradáveis que as do 207 serão as do 206, sem dúvida. Este hatchback chegou aqui em 1998, e desde o começo já dava sinais do sucesso que faria. A primeira razão disso era o design, sem dúvida: suas linhas fortes e inovadoras davam uma interpretação muito mais moderna ao estilo felino que a Peugeot sempre usou, o que garantiu uma esportividade natural ao carro – a aceitação na Europa também foi tão grande que a linguagem de estilo usada pela marca na década passada foi motivada por ele. Mas como ele sempre foi um compacto, nada disso teria dado certo por aqui se ele viesse caro demais: a resposta da marca foi produzi-lo em Porto Real (RS) sem demora, já com todas as adaptações necessárias para o Brasil. Em outras palavras, ele seguiu toda a cartilha para competir em pé de igualdade com os populares, da época em que os nossos hatchbacks eram apenas estes ou os médios: o 206 fez boa ofensa não só a veteranos como Corsa, Gol, Fiesta e Palio como também ao Clio, que chegou ao país em condições muito parecidas. A versão SW chegou até sem demora, mas a sua carreira foi mais complicada porque a receita francesa de valorizar a forma não combinava bem com necessidade de espaço amplo que essa categoria tinha no Brasil.
Como em vários casos similares, os problemas que essa linha veio a ter não vieram tanto do passar do tempo, mas sim de como a marca precisou lidar com o mesmo. O 207 europeu chegou em 2006 tão evoluído que não teria como aparecer aqui com os mesmos preços do antecessor – as estimações que a Peugeot fez lhe dariam o preço dos compactos premium de hoje completos, numa época em que tal categoria ainda quase não existia. Foi por isso que se recorreu à famosa solução de estender o ciclo de vida do 206 realizando um facelift para mantê-lo atraente por mais alguns anos. Essa pode não ser a estratégia mais desejável, mas sua aceitação é determinada mesmo pela execução que chegue a ter – foi com isso que as gerações anteriores de Gol e Palio, por exemplo, sobreviveram de 1999 a 2008 e de 2000 a 2011, na ordem. Mas também foi com isso, porém, que o popular dos franceses começou a decair. Para começar, suas mudanças grandes não foram mais que na dianteira e no painel. Em segundo lugar, a marca procurou somar itens como câmbio automático para tentar vendê-lo como premium, em faixas de preço mais altas, mesmo que todo esse investimento regional tenha sido feito originalmente para reduzir os custos. E quando se revelou o nome que a novidade viria a usar…
Não chega a ser descabido afirmar que o fracasso dessa nova fase tenha sido acentuado por receber o nome 207. Afinal, dar ao redesenho paliativo o exato nome da real novidade cuja ausência ele tentava disfarçar soou quase como um insulto. Além disso, a boa intenção de expandir a linha não derrotou o timing ruim: qualquer novidade mais profunda se torna cada vez menos recomendável de lançar com o passar do tempo porque significa que terá cada vez menos tempo disponível no mercado, o que aumenta a desconfiança do cliente potencial. Some isso ao desenho de gosto igualmente questionável das variações sedã e picape (esta chamada de Hoggar) e o fracasso de vendas de ambos fica explicado. A Peugeot conseguiu começar a se redimir apenas depois de mais alguns anos, com a chegada do 208 verdadeiro e sem atrasos excessivos, a confirmação do crossover 2008 e a expectativa da vinda do sedã 301. Com isso, o modelo anterior ganha liberdade para voltar à categoria de entrada, da qual nunca deveria ter tentado sair. Sedã e SW já tiveram a produção finalizada, destino que a Hoggar deverá ter em breve. Já o hatchback sobrevive feito na Argentina, por causa das vendas reduzidas. O site da marca indica que ele agora só tem as versões Blue Lion e Active, apenas com quatro portas e o 1.4 de 82 cv e 12,9 kgfm e por R$ 26.990 e R$ 30.990.