Quando se fala em carros, nos países emergentes existe o costume das montadoras de prolongar o ciclo de vida de alguns modelos, especialmente os mais acessíveis. Essa questão costuma receber críticas muito fortes porque em alguns casos se atribui à ganância das empresas, mas o fato é que, pelo menos no começo, todos são motivados pela simples necessidade de “equilibrar as finanças”. Levar a análise a este ponto é o que permite afirmar que os lançamentos como o deste artigo não são mais que formas diferentes de lidar com o mesmo problema.
Quem tem a garagem ocupada por modelos como Apollo, Logus, Pointer, Royale ou Versailles sabe: carros que resultam da associação entre duas ou mais montadoras podem ser compras muito boas ou muito ruins. Os cinco acima são frutos da Autolatina, que no Brasil uniu Ford e Volkswagen de 1987 a 1995. A ideia era de convergir a uma empresa única com as características das duas somadas a vantagens como divisão de custos, mas o resultado real foi uma série de “filhos” que destoavam do resto das duas linhas e disputavam o mesmo público dos carros dos quais derivavam. Como sua construção usava partes de uma e da outra, tanto quanto a peças como quanto aos espaços produtivos, não é de se estranhar que eles tenham sido os primeiros a sair de linha quando as empresas decidiram se separar.
Existem casos em que essas uniões dão muito certo, como a que resultou da aquisição da Citroën pela Peugeot, mas infelizmente são minoria. O caso da Chrysler é interessante porque ela tem um largo histórico de parcerias com outras montadoras, em variados graus de integração. Porém, se hoje em dia ela parece ter encontrado rumo muito bom nas mãos da Fiat, seu passado foi diferente. Na década passada, por exemplo, a união com a Daimler durou pouco porque resultou uma sucessão de divergências de pensamentos e interesses. O problema maior foi que alguns modelos chegaram a ser gerados nesse meio-tempo. A Chrysler precisava aproveitar o interesse dos norteamericanos por carros menores e mais eficientes, mas como nem ela e nem a parceira tinham experiência com eles…
Como se não bastasse a falta de inspiração que caracterizou os carros dali nos anos 2000, Dodge Caliber e Jeep Compass sofreram com desenhos que não agradavam nem como crossovers e nem como compactos, e com um corte de custos que lhes deu materiais de baixa qualidade, motores fracos demais e a plataforma reaproveitada da parceira anterior da Chrysler, a Mitsubishi. Tudo isso terminou tirando o primeiro de linha em 2012, e só não fez o mesmo com o outro porque seu facelift de 2011 conseguiu reanimar as vendas. Depois disso o Compass veio recebendo pequenas melhorias até hoje, mas todas com a intenção de manter boas vendas até que ele possa sair de produção sem gerar prejuízo. É a mesma que, para carros mais baratos, implica na simplificação gradual de acabamento e equipamentos.
Somar a chegada do Renegade e do novo Cherokee ao fato de que estes já usam projetos compartilhados com a Fiat resulta em que o Compass não só vai sair de linha em breve como que não terá sucessor. Isso é o que motiva as novidades de sua linha 2014, que chega ao Brasil por R$ 102.100. Ele tenta se manter atraente no mercado ao incluir novas rodas aro 18” em preto, mesma cor de grade frontal, carcaça dos retrovisores e apliques plásticos inferiores.Por dentro, o painel ganhou uma faixa metálica com o nome do carro e o quadro de instrumentos tem novo grafismo. Além disso, o para-brisa ganhou isolamento acústico, o que segundo a Jeep aumenta o conforto a bordo. Todo o demais permanece inalterado, assim como o motor 2.0 16v de 156 cv e 19,4 kgfm a gasolina, o câmbio CVT e o consumo urbano de 9,8 km/l.