Você já ouviu falar na expressão “projeto mundial”? É a tão exaltada estratégia dos fabricantes que buscam economizar ao produzir um mesmo carro para variados mercados. Mas o conceito oposto também existe: às vezes a melhor solução é mesmo apelar aos projetos regionais. A novidade da Renault se aplica ao segundo caso sem dúvidas. Uma visão apressada pode condenar o Symbol facilmente, mas analisando-o com calma também é fácil de perceber que ele traz mais qualidades do que se imagina.
Sim, você já deve ter lido várias vezes que este três-volumes sucede o igualmente turco Clio Sedan mas mantendo sua plataforma, que por sua vez data do final da década passada. A questão está em que certas vezes essa solução é a melhor. O Clio original da França hoje está uma geração à frente do nosso, e ela lhe trouxe evoluções em aspectos como estilo e motorização mas também equipamentos e estrutura, e tudo isso fez seu preço aumentar bastante. Fora o agravante de que a nova geração veio apenas como hatchback e perua. Então, fora a necessidade de projetar o três-volumes, por maior economia de peças que ele fizesse, vender um carro mais sofisticado em mercados de menor poder aquisitivo sem dúvida resultaria em preços muito maiores que a média da concorrência. Seria como vender um sedã compacto a preço de médio. A melhor ideia, então, foi promover um completo reprojeto sobre o Clio Sedan que já existia em linha. Mas a vantagem do Symbol é que essa economia de projeto se compensou em outro aspecto.
Suas propagandas já antecipam muito bem a proposta que ele faz no Brasil. Ele foge dos segmentos de entrada por natureza, porque busca justamente oferecer uma forma de expor ascensão. O Symbol quer ser escolhido por aquelas famílias de casal com poucos filhos e que começaram a subir na vida. Daí vem a sensação de requinte que ele busca passar: o exterior não esconde as janelas grandes e maçanetas baixas que caracterizavam o antecessor, mas ganhou muito em elegância. Seja pela dianteira de farois grandes e barra cromada que aludem aos Renault de luxo. como o sedã grande Safrane, a traseira bem-esculpida de lanternas vistosas ou mesmo alguns detalhes menores, que passam a sempre agradável sensação geral de qualidade: a linha do teto ficou muito bonita, com um caimento suave e que não lembra em nada o aspecto bruto do antecessor. Também colabora para isso a inclusão da tão desejada terceira janela, logo atrás das portas. Seu tamanho reduzido não adiciona muito à visibildade, mas sim na harmonia de estilo.
Os requintes do Symbol continuam na cabine. Era inevitável que se mantivessem algumas localizações de comandos do Clio, mas o novo painel dá gosto de ver. As cores claras ajudam na sensação de amplitude de espaço, ao passo que a predominância de linhas horizontais dá impressão de maior largura. Considerando a atual nomenclatura usada pela Renault para as versões de seus carros, nota-se que ela quis reforçar a imagem do Symbol ao fazê-lo partir já da Expression, em geral tida como intermediária. Começando em 41.490 reais, ela traz de série ar-condicionado, airbag duplo e direção hidráulica, entre outros. A versão de topo se chama Privilége, e soma bancos de veludo, sistema de som multimídia, rodas de liga leve aro 15 e ar-condicionado digital, entre outros. O ABS é opcional nas duas, mas uma falta lamentável é a do câmbio automático, porque vem se proliferando com força entre os carros de sua categoria.
Entretanto, engana-se que os genes só lhe trouxeram desvantagens. Uma grata herança do carro que já ocupou seu lugar está no terceiro volume. Embora o Symbol tenha conseguido um desenho de traseira muito mais charmoso, seu porta-malas manteve o espaço de latifúndio que fez a fama do Clio Sedan: perderam-se apenas quatro litros, obtendo o total ainda expressivo de 506 litros. Ele chega ao país também com duas opções de motor, as duas já conhecidas dos Renault brasileiros: ambas 1.6 flexíveis, a versão oito-válvulas gera 92/95 cv enquanto a 16v alcança 110/115 cv, sempre com gasolina/álcool. Seus principais concorrentes no Brasil serão Fiat Siena, Peugeot 207 Passion e VW Polo Sedan, mas vale lembrar de um detalhe: o projeto do Polo é de 2001, enquanto o 207 Passion tem raízes em 1998 e o Siena em 1996. Ou seja, nenhum deles pode alardear a idade de projeto como um atrativo frente ao novo Renault.