Enquanto alguns modelos atraem os holofotes para si com frequência, seja por receber séries especiais, promoções de fábrica ou mesmo nova publicidade, outros seguem estratégias muito mais comedidas – e existem vários exemplos bem-sucedidos dos dois casos. A Citroën preferiu tornar a imagem de seu sedã médio discreta e controlada, de forma que só o fato de o C4 Pallas aparecer nos destaques outra vez já é motivo de surpresa. O choque maior, no entanto, vem ao descobrir o motivo destes novos minutos de fama.
Assim como tem razão quem disser que o Pallas nunca foi um carro de chamar atenção demais, também não se pode negar que toda essa discrição trabalhou a seu favor. Seu lançamento se fez numa época em que a marca quis renovar o portfólio no mundo inteiro, adotando a nomenclatura da inicial de Citroën seguida de um número referente à posição do carro na linha. Este ambiente de mudanças fez muito bem especialmente ao seu mercado brasileiro porque a marca ainda não conseguia emplacar: por mais que o C3 e a Xsara Picasso tenham agradado em cheio, a fama que imperava ainda era a de que carro francês quebra fácil e tem custo de manutenção elevado. Não se pode dizer que nasceu com injustiça porque foi obra da pressa por aproveitar a reabertura das importações, na década de 1990: várias montadoras trouxeram seus carros sem qualquer adaptação para as condições de rodagem do Brasil, resultando em um pós-venda desastroso. Ou seja, é possível afirmar que a chegada das linhas C3, C4 e C5, com produções respectivas nacional, na Argentina e na França, deveria consertar a imagem da Citroën por aqui. O compacto premium não demorou a cair no gosto das mulheres, ao passo que os últimos sempre foram muito elogiados por público e crítica.
Já a família de médios, que chegou completa, teve recepção variada. Deixar a estreia para o VTR duas portas causou as esperadas controvérsias por conta de seu desenho, mas isso só serviu para deixar o público alerta aos modelos que realmente seriam vistos com frequência entre nós: o hatchback de quatro portas, com desenho bem mais convencional, e o sedã, que foi idealizado na China (o projeto francês não o previa) como C-Triomphe. Batizado como Pallas apenas no Brasil, ele repetiu o excelente gosto do dois-volumes quanto aos mimos exclusivos, como o aromatizador de cabine e o volante de centro fixo, e repetiu o excelente nível de equipamentos da categoria. Seu diferencial, no entanto, estava no tamanho para o bem e para o mal. A maior vantagem foi para o espaço, tanto para levar cinco pessoas com folga como no latifúndio que é o porta-malas de 580 litros. A desvantagem, contudo, esteve na forma em que se conseguiu todo esse tamanho. O comprimento de 4,77 m ganha até do C5, mas nem a inspiração neste conseguiu ajudar o design do irmão “menor”. Elementos como a linha de cintura reta e a área envidraçada enorme, com vigias laterais à frente e após as portas, só fazem o Pallas parecer ainda maior. Para completar, o arco do teto termina depois do eixo traseiro e em um terceiro volume que acabou ficando curto demais.
Não que o carro chegue a desagradar, mas para entender isso melhor basta ver a solução criada pelos chineses: como aquele público também desaprovou este sedã, a marca criou o C-Quatre: seu desenho mais curto e esportivo agradou bem mais, mas virou uma opção mais barata ao irmão, em vez de substituí-lo. Tanto essa primeira recepção como as consequências que ela viria a refletir nas vendas do Pallas serviram de experiência em especial para a Citroën chinesa e para a brasileira, porque são estes os mercados emergentes de maior importância para a marca. A nova geração do C4 sedã foi inaugurada naquele país no ano passado e outra vez com criação própria, mas com um salto inestimável de conjunto. A perda dos tais mimos exclusivos é lamentável, mas o carro ficou mais focado no que realmente interessa a um cliente típico. Seu pacote de itens cresceu e ganhou em modernidade, mas dessa vez estende os elogios ao design, cujas linhas ficaram muito mais elaboradas; o menor comprimento trouxe perdas de porta-malas, mas nada que chegue a trazer problemas. Enquanto isso, o último virar de holofotes na direção do Pallas atual vem por causa da queima de estoque promovida pela Citroën brasileira: sem mudar um parafuso, a versão de topo Exclusive fica em R$ 58 mil. Já a GLX, também com o 2.0 16v, fica em R$ 52.990, mas levando o câmbio manual se chega aos R$ 49.990.