JAC T8

Clique para ver em alta resoluçãoQuando se entra em um mercado que já é fortemente dominado por uma ou poucas empresas, uma estratégia muito boa é preparar-se para tudo. Como é muito difícil de a novata enfrentá-las diretamente, sua melhor opção é ficar atenta para qualquer momento de fraqueza daquelas e procurar aproveitá-lo o mais rápido possível. Estes podem ir desde problemas de fábrica até simples trocas de modelo malsucedidas. Ou, no caso da van deste artigo, uma combinação de fatores que pode resultar muito favorável a quem está chegando agora.

Mesmo quando ainda era um plano de médio prazo, a retirada da Kombi já provocava certo furor tanto entre as rivais como na própria Volkswagen. Afinal, além de a veterana manter um nível de vendas bom com estabilidade, o mais interessante é que nenhuma das outras opções teria chance de tomá-lo inteiro para si porque até hoje não apareceu sequer um concorrente com conjunto ao menos parecido com o dela – o que se deve em grande parte à sua idade avançada. A solução, então, foi tentar seduzir partes do seu público. A Fiat espera que sua nova Fiorino atraia pelo mesmo nível de confiabilidade, os utilitários chineses procuram oferecer custos igualmente baixos, e as vans grandes acenam com a capacidade maior e os motores a diesel.

Entretanto, pode-se dizer que este foi outro caso em que o pensamento originado por um evento em particular terminou se espalhando em magnitude bem maior. No que poderia ganhar a alcunha de “não é só pela Kombi”, o mercado de veículos comerciais começou a ganhar em competitividade justamente porque as empresas ficaram mais atentas. Hoje em dia a Fiat ainda domina a maior parte do mercado de vans, mas a categoria de grande porte já esboça uma troca de “dono”: a nova geração da Renault Master tem trazido resultados excelentes, facilitados pelo fato de as irmãs Fiat Ducato, Peugeot Boxer e Citroën Jumper terem “esquecido” da geração que circula na Europa desde 2006. Porém, ao que tudo indica o mercado parece favorável aos dois extremos.

Enquanto a disputa daquelas inclui as versões de carga, a JAC decidiu apostar no transporte de passageiros. A van recrutada é vendida na China como Refine IV desde 2011, e busca trocar quantidade por qualidade. Sete pessoas são cerca de metade da capacidade máxima de um Ducato, mas em um carro de mesmo tamanho (portanto, mais espaçoso para cada uma) e com um nível de sofisticação interessante. Não chega aos pés de algo como a última Mercedes-Benz Classe V, mas também está longe de fazer feio. Como ela busca agradar ao setor de transporte de luxo, os chineses não pouparam esforços: o conjunto da T8 lembra o da VW Caravelle, que chegou a aparecer no Brasil nos anos 1990 – que, curiosamente, é nada menos que a geração moderna da Kombi.

Por outro lado, tanto esforço parece ter sido mal-aplicado na parte externa. Não que a T8 chegue a ser feia, mas não é difícil chegar a adjetivos como “exagerada” ou “desengonçada”. A seção preta procura conectar as janelas entre si, e dá a teto e capô um efeito “flutuante” parecido ao de alguns Citroën, como o DS3. Mas estendê-la até os farois implicou em um aplique preto enorme, à frente das janelas. Na dianteira, nada da parte de baixo parece combinar com a de cima, especialmente os pares de farois. E se a grade principal parece grande o suficiente para dispensar a que fica logo abaixo, suas linhas fluem a janelas laterais cuja ideia de destacar a primeira lembra o da Nissan NV200. Mas, ao contrário desta, as da T8 terminam em um aumento abrupto na traseira.

Mas os atributos da chinesa estão concentrados mesmo é na cabine. Seu painel mudou por inteiro, comparado ao da versão original, e adotou linhas mais elegantes. O predomínio de cinza e preto está lá, para agradar ao nosso público, mas o bom gosto tropeça com o grande aplique imitando madeira. Nada que tire os méritos da multivan, no entanto. Aqui ela volta a confiar no arrimo dos chineses vendidos no Brasil, e busca justificar os R$ 114.990 com a intenção de luxo que já se mencionou. Seus itens de série incluem airbag duplo, ar-condicionado bi-zona, bancos dianteiros elétricos, câmera de ré, central multimídia com tela de 7”, freios com ABS e EBD, navegação GPS, retrovisores elétricos, revestimento em couro para bancos e volante, sensor de estacionamento e até teto solar.

Tudo isso se distribui em uma carroceria grande, que mede 5,10 metros de comprimento por 1,84 m de largura e 1,97 m de altura, com 3,08 m de entre-eixos. Outro aspecto importante é o porta-malas, que as rivais costumam esquecer: aqui ele leva 1.310 litros como padrão, que passam a 3.550 retirando a terceira fileira de assentos e a 4.800 deixando apenas a primeira – não é à toa que a Refine chinesa também tem versão furgão. Como tudo isso pesa um mínimo de 2.100 kg, a JAC também precisava caprichar na escolha da propulsão. Para isso veio um 2.0 16v turbo, provavelmente criado a partir do motor da minivan J6: aqui ele gera 175 cv e 26,5 kgfm, usa tanque de oitenta litros e se associa a um câmbio manual de seis marchas.