Dividir automóveis por categorias é uma ferramenta muito útil para todas as partes que este âmbito envolve. As empresas os usam como guias dos níveis que um novo produto deve atender, a análise da imprensa pode fazer comparações muito mais justas, e o cliente descobre com facilidade quais opções têm proposta similar à das que ele já conhece. Porém, com a quantidade de carros que se lançam a cada ano, já está ficando difícil classificá-los por carroceria. O que dizer, então, de quando se tenta encaixá-los em compacto, premium ou médio?
Um dos fatores mais recentes a ganhar importância nessa questão é o passar do tempo. Seja por renovações dos concorrentes ou dos outros modelos da mesma marca, um modelo de carro sempre vai perder prestígio ao longo dos anos. Como cedo ou tarde isso se traduz em redução das vendas, salvo raríssimas exceções, isso se torna um dos motivos mais importantes para uma montadora investir em atualizações: as completas melhoram a imagem do carro, as parciais a mantêm, em geral, e o reposicionamento de mercado tenta aproveitar a perda, para gastar o mínimo possível. Classificar carros vem se tornando difícil por isso. Como cada um se encontra em um ponto diferente do ciclo de vida, eles terminam migrando entre uma e outra ao longo dos anos.
No Brasil, o caso mais famoso disso é o dos carros premium. Modelos como Polo, Punto e Sonic, por exemplo, ocupam no exterior o lugar que aqui corresponde a Gol, Palio e Onix. Mas como aqueles ganharam bastante em sofisticação nas gerações mais recentes, para atender os padrões europeus e norteamericanos, eles chegam aqui com preços altos o suficiente para ficar um degrau acima da categoria diretamente equivalente. O caso contrário se observa entre os sedãs médios. Já que a competição deles é muito acirrada, o padrão se mantém elevado. Com isso, não é qualquer um que consegue uma fatia significante de vendas. A solução que algumas marcas adotaram é a de oferecer um sedã com o conjunto de médio, mas a preços dignos da categoria inferior.
Em outras palavras, o Geely EC7 chega ao Brasil com estratégia similar à de Fiat Linea e JAC J5. Medidas como os 4,64 m de comprimento, 1,79 m de largura e 2,65 m de entre-eixos lhe dão espaço interno muito bom e 670 litros de porta-malas, mas o preço de R$ 49.900 se justifica pela notável sensação de que os médios “legítimos” são “mais carro”: optar pela discrição é sempre a melhor saída em uma categoria como esta, e a Geely executou essa estratégia com certo bom gosto, mas o fato é que o EC7 não atrai em nada. Detalhes como a grade dianteira preta com filetes cromados agradam, mas a inexpressividade das laterais e itens como a enorme barra cromada da traseira revelam um nível que a maioria dos rivais já superou há anos.
Impressão parecida se tem com a cabine. O console central parece ter saído de um carro dez anos mais velho, e não só pelo sistema de áudio parecido ao que a Ford usava nessa época. A combinação de partes prateadas e em preto brilhante ficou chamativa demais, apesar de que isso se torna pior no quadro de instrumentos, ao somar a iluminação azul. Montado no Uruguai em regime CKD, o sedã traz de série ar-condicionado, bancos de couro, computador de bordo, direção hidráulica, duplo airbag, freios a disco nas quatro rodas com ABS e EBD, sensor de estacionamento traseiro, sistema de fixação Isofix e travas e vidros elétricos. Seu motor é um 1.8 16v de 130 cv, associado ao câmbio manual de cinco marchas.