CBT Javali, Engesa 4, Envemo Camper, Gurgel X-12… Se estes veículos, entre vários outros, fossem pessoas, hoje estariam sentindo o mais puro orgulho. Lançado em 1998, o produto da montadora cearense de Horizonte não só conseguiu cativar seu público, em meio a tantas opções estrangeiras, como foi capaz de crescer e atrair todas as atenções. Agora, depois de tantos anos, ele chegou à primeira reinvenção completa para tentar manter o bom trabalho. Mas basta conhecê-lo um pouco mais para ver que seu potencial está maior do que nunca.
Se o Brasil nunca conseguiu estabelecer uma indústria automotiva totalmente nacional, definitivamente não foi por falta de tentativas. Jipes como aqueles possuíam qualidades que impressionam até hoje, mas a questão é que seus vários problemas vieram do entorno: o mercado da época era reduzido, os preços não lhes davam vantagem, a operação das empresas era deficiente… A volta dos concorrentes importados, na década de 1990, foi apenas a gota d’água. Outras marcas chegaram a tentar a sorte, mais tarde, mas nenhuma chegou perto do nível da Troller. Pode-se dizer que o primeiro passo para isso foi deixar de levar o lema “100% brasileiro” tão a sério: este jipe usava motor MWM e até algumas peças de outros carros.
Por mais que isso não agradasse aos mais nacionalistas, o fato é que permitiu à montadora reduzir custos, e com isso chegar a preços mais competitivos. O resultado foram vendas estáveis, e o subsequente investimento maior da marca no T4. Vieram motor mais moderno, mais opções de equipamentos e leves redesenhos parciais. Agora, não se pode negar que a maior responsável por esta nova geração foi a aquisição da Troller pelo grupo Ford, mas este é um dos raros casos em que isso não acarrretou perda de identidade. O jipe pôde evoluir por completo sem deixar de lado os valores que construíram sua fama, como o desempenho fora-de-estrada tido como prioridade e a concepção funcional, sem concessões expressivas a aspectos subjetivos.
Isso pode parecer difícil de acreditar vendo as fotos da novidade, mas elas só são outra prova do quão bem-feito foi este trabalho. Por fora, a impressão geral é “futurista”, em comparação com o T4 antigo. Todos os elementos de estilo estão lá, como a silhueta quadrada, o uso de duas portas, as luzes pequenas, as rodas bem afastadas dos paralamas em prol da liberdade de movimento, e até teto e carroceria em cores contrastantes. Porém, ao mesmo tempo tudo ficou diferente. A inspiração no conceito TR-X lhe deixou muito mais moderno e imponente, além de equipará-lo com a maioria dos jipes de conceito similar vendidos no resto do mundo – nos Estados Unidos, alguns entusiastas chegaram a sugerir que ele fosse vendido lá como um novo Ford Bronco.
Porém, também é preciso notar que a fábrica da Troller recebeu tantos avanços quanto o carro que agora produz. Sua área construída foi ampliada e a linha de produção recebeu equipamentos mais modernos, deixando de lado o proceso quase que artesanal do modelo anterior. A carroceria agora é construída em um composto de fibra de vidro e aço, mais leve e simples de moldar, e a segurança foi reforçada com uma nova estrutura metálica tubular, que por sua vez protege a cabine. Todas as dimensões foram aumentadas, visando maior espaço interno, e quase todos os componentes da parte de baixo foram trocados ou melhorados – a suspensão, no entanto, permanece de eixos rígidos com molas helicoidais, e a estrutura mantém o chassi de longarinas.
Sua cabine ainda está longe de ser confundida com a de um automóvel urbano, mas isso certamente era a última das prioridades da Troller. O painel alia a agressividade de sempre a contornos mais envolventes, que reduzem a sensação de estar em um Jeep Willys – existem vários itens compartilhados com a Ranger, como computador de bordo, quadro de instrumentos e volante. A lista de itens, por sua vez, traz trio elétrico, sistema de áudio multimídia e até ar-condicionado bizona. Quem desejar desbravar trilhas mais radicais pode melhorar o T4 com uma lista de 130 acessórios, incluindo guincho elétrico, parachoques mais altos, pneus 80% off-road e snorkel. Detalhe curioso é que ele tem teto solar duplo, mas não airbag: a marca aproveitou uma brecha da legislação para esse tipo de veículo.
Tudo isso é movido pelo mesmo 3.2 turbodiesel que equipa a picape Ford. Seus cinco cilindros geram 200 cv e 48 kgfm, suficientes para deixar o T4 mais ágil do que nunca. Ele sempre usa câmbio manual de seis marchas e a tração cujos três modos são selecionados por uma chave no console: 4x2 traseira e 4x4 comum e reduzida – a segunda pode ser ativada a até 120 km/h. A Troller ainda afirma que os ângulos de ataque e saída ficaram em 51° e 40° e o lateral em 40°, o vão livre para o solo fica entre 20,8 e 31,1 cm e a capacidade de imersão é de 80 cm. O tanque de combustível ficou em 62 L, mas o porta-malas passou a 134 L, chegando a 558 L com os bancos traseiros rebatidos. Sem acessórios, o novo Troller T4 custará R$ 110.990.