Muitas das estratégias com as quais o mundo automotivo trabalha têm um par oposto. Algumas montadoras são adeptas de unificar sua linha mundial, enquanto outras apostam na regionalização. Umas se aventuram em formar múltiplas submarcas, ao passo que outras preferem trabalhar com o menor número possível, e assim por diante. Com as tão famosas identidades de estilo isso não é diferente. Montadoras chinesas são as que mais relutam em adotá-las, e isso traz resultados como o que este artigo está prestes a lhe apresentar.
GC2 é apenas o nome brasileiro de um hatchback que já é vendido em mercados orientais desde 2009: na China, ele aparece como Geely Panda ou Gleagle Panda. África do Sul, Nova Zelândia e Sri Lanka o recebem como LC. Já Taiwan vende o Tobe M’Car, este com leves retoques. A partir disso já se pode entender a inspiração da Geely para desenhar o compacto: o urso panda teve sua face representada pela dianteira do carro, enquanto as lanternas simulam suas garras. A lateral, por sua vez, recorreu a um esquema que no lançamento chegou a ser criticado por lembrar “demais” o do trio Citroën C1, Peugeot 107 e Toyota Aygo – está lá o mesmo estilo das janelas de trás, que são bem afastadas da traseira para simular que o carro só tem duas portas.
No Brasil, ele vai repetir a proposta dos conterrâneos Chery QQ e JAC J2: seduzir quem leva Chevrolet Celta, Fiat Palio Fire, Renault Clio e Volkswagen up! com pacote de equipamentos mais recheado e preço bem menor: por R$ 29.900, o chinês traz de série airbag duplo, alarme antifurto, ar-condicionado, direção hidráulica, freios ABS com EBD (os dianteiros com discos ventilados), rodas de liga leve aro 14”, sensor de estacionamento, sistema de áudio multimídia com quatro alto-falantes, travas elétricas e volante com regulagem de altura. Sob o capô, aparece um 1.0 de três cilindros e doze válvulas que alcança 68 cv de potência e 8,9 kgfm de torque e atua em conjunto com um câmbio manual de cinco marchas.
Mais uma vez seguindo o caminho daqueles dois, o GC2 é o tipo de automóvel que chega ao Brasil agradando na hora da compra, apenas. Ele vem bem-equipado para o padrão da categoria, o trem-de-força não deixa a desejar, e seu estilo é mais um a tirar vantagem do fato de que gosto é algo altamente variável de pessoa para pessoa. Seu maior problema, no entanto, continua sendo o futuro. Por mais que as unidades brasileiras sejam produzidas em Montevidéu (Uruguai), a imagem da Geely ainda é nula no país. A Lifan, por exemplo, chegou a oferecer o 320 aqui nas mesmas condições, mas mesmo assim teve desempenho fraco o suficiente para retirá-lo de repente em pouco tempo. Operações assim destroem a confiança de qualquer consumidor.
Como se isso não fosse suficiente, o GC2 desembarca em um momento nada favorável: por estar no quinto ano de vida lá fora, ele deverá passar por atualizações em muito breve. Com isso, quem comprá-lo hoje corre o risco de seu carro sair de linha em um ou dois anos e depois de ter vendido poucas unidades, o que contribui para uma desvalorização acentuada. No caso particular do Brasil, a estratégia da marca terminou dividindo esse estágio em dois: antes de falar em redesenhos, o modelo que chega agora ainda é restrito à gasolina. Mas a própria marca já indica que ele não terá vida longa, porque o flexível já está em processo de homologação. Em outras palavras, o GC2 voltará aos holofotes em breve. Mas já não vai provocar tantos sorrisos como agora.