Inovação é uma parcela muito grande do conjunto de estratégias de qualquer empresa que tenha pelo menos um mínimo de participação no mercado, mas ainda mais importante que ela é a adaptabilidade. O ato de reconhecer que a vontade do público não só muda com muita facilidade como o faz em uma infinidade de formas. São tantas que várias vezes incluem até mesmo não mudar. Este é apenas um dos intrigantes paradoxos que vêm garantindo o inquestionável sucesso deste fascinante SUV inglês por mais de quatro décadas.
Em outras palavras, essa questão consiste no contraste de vontades vindo da maioria dos clientes com o costume de buscar as opções mais recentes de um produto desejado exercido ao mesmo tempo que preservam certas preferências por muitos anos sem a menor possibilidade de troca. O mercado de perfumes femininos, por exemplo, vende uma série de marcas e modelos mas ainda tem Chanel n° 5 entre os líderes, por várias décadas consecutivas. Situação parecida acontece com Coca-Cola, Nestlé e várias outras, em geral uma marca por segmento. É exatamente isso que mantém a demanda pelo Range Rover inabalável desde os anos 1970. Rivais vêm e vão com os conceitos mais diversos e das mais variadas marcas – incluindo a própria Land Rover, com o Evoque – mas a demanda pelo “Rolls-Royce do fora-de-estrada” permanece sem se abalar. Este aparente paradoxo se torna especialmente interessante porque na verdade é composto por outro paradoxo: se a estratégia simbolizada pelo epíteto mencionado seja seguida atualmente por uma variedade enorme de modelos, quem a criou foi o próprio Range Rover. A receita de tanto sucesso é associar a cabine digna de uma limusine a preparo mecânico suficiente para permiti-lo trafegar nos mais diversos tipos de terreno e com os climas mais adversos sem perder a elegância.
Falar em elegância pode fazer com que muita gente logo lembre dos farois e lanternas claramente inspirados nas luzes do Evoque, mas o fato é que a personalidade do irmão maior é muito mais profunda. Outro símbolo que provavelmente nunca vai mudar é a silhueta do Range Rover, mesmo que a combinação de teto com queda leve associado à traseira inclinada tenha tido seu auge na época da primeira geração. Esta parte guarda um detalhe interessante, aliás: enquanto vários hatchbacks exibem o chamado “teto flutuante” como um detalhe de estilo recente, o SUV inglês já podia trazer todas as colunas em preto desde a primeira geração, obtendo exatamente o mesmo efeito de fazê-las parecer unidas às janelas como um só elemento em preto brilhante, que ao não impedir o teto de manter a cor da carroceria faz este último parecer visualmente desconectado da mesma. Mas assim que você tiver conseguido desviar o olhar do incrível equilíbrio entre passado e presente que é o design exterior deste veículo, começa o momento de estender o fascínio ao interior. A fartura de espaço para cinco pessoas foi exaltada com o aumento de entre-eixos em relação ao antecessor, além de o revestimento em couro se oferecer nos mais variados tons para combinar com a igualmente ampla oferta de tipos de madeira, tudo para compor o ambiente que mais agradar ao abastado proprietário.
Passar à parte técnica do novo Range Rover sempre merece a menção da sua nova plataforma, que recebeu aumento na tecnologia embarcada para não só ganhar em resistência como também para uma excelente perda de peso, que em certas versões chega a 400 kg. Uma novidade ainda mais surpreendente é a evolução do sistema Terrain Response, que abandona a necessidade de o motorista alterar o modo de direção: agora é o próprio veículo que avalia a condição do terreno em que está para escolher os parâmetros mais adequados de estabilidade, suspensão e tração. Em paralelo, o interminável pacote de equipamentos inclui mimos extremos como quadro de instrumentos feito por uma tela LCD e o reprodutor de DVD para os passageiros do banco traseiro. As opções de motorização mantêm o câmbio automático ZF de oito marchas para todas as versões, que no Brasil começam com a Vogue 4.4 V8 biturbo movido a diesel, com potência de 339 cv e torque de 71,1 kgfm e preço de R$ 551.800. Ele também equipa a Vogue SE sob o preço de R$ 575.800 e a topo-de-linha Autobiography, que por sua vez fica em R$ 596.800 – este trem-de-força lhe faz acelerar de 0 a 100 km/h em 6s9 e chegar à velocidade máxima de 217 km/h. Porém, quem desejar força ainda maior pode trocar o diesel pela gasolina que move o 5.0 V8, responsável pelos 510 cv e 63,5 kgfm e pelo desempenho de 5s4 e 225 km/h, este com limite eletrônico. Esta unidade equipa as versões Vogue SE Supercharged, de R$ 583.800, e Autobiography Supercharged, de R$ 601.400.