Você lembra da Autolatina? O exemplo mais famoso de joint-ventures a trabalhar no Brasil gerou vários resultados interessantes, como a segunda geração do nosso Ford Escort XR3, mas a maior parte de sua fama veio das tentativas de emplacar os modelos de concepção mista no mercado, a maioria de gosto duvidoso. Quem poderia imaginar que nos dias de hoje, mais de vinte anos depois, as coreanas Kia e Hyundai apostariam numa estratégia muito parecida à que se imortalizou com Escort, Logus, Pointer e Verona?
Como todo par ou grupo de empresas recém-fundidas que atuam nos mesmos mercados, Ford e VW precisavam lidar com o problema da canibalização de vendas. A ideia era renovar os produtos de cada linha com projetos desenvolvidos por ambas, visando a mesma economia de escala que motiva hoje o compartilhamento de plataformas entre Hyundai e Kia. A Autolatina teve hatchback e sedã com versões duas e quatro-portas, dois modelos para cada marca para não haver competições internas. As marcas coreanas não chegaram ao extremo de um sedã só com duas portas, mas promovem uma divisão de conceito muito parecido: enquanto o Hyundai Elantra oferece um motor 2.0 16v de até 178 cv, o novo Cerato entra numa faixa de mercado inferior ao desembarcar apenas com o 1.6 16v, compondo o inverso do “companheirismo” que se repetirá em breve com os hatchbacks médios. Afinal, é bastante provável que o i30 se restrinja ao mesmo 1.6 para liberar espaço de mercado para o Cerato hatch trazer apenas o 2.0, em breve. Estratégias à parte, o fato é que o Cerato melhorou em tudo, comparado à geração anterior. O novo projeto trocou as linhas retas por volumes mais encorpaados e divisões mais suaves, compondo uma esportividade natural e muito elegante.
Mais elegante, aliás, que a do Elantra, para os que dão maior valor à discrição. O lado ainda melhor que nada disso impede o Cerato de chamar atenção, na verdade: sejam os farois com linha em LEDs, as laterais com linha e cintura elevada e traseira curta ou a traseira dominada pelas vistosas lanternas, o sedã se mostra uma interpretação bem mais esportiva de um conceito geral que também lembra o Renault Fluence e o norte-americano Dodge Dart. Seu problema se encontra no interior, infelizmente. Mais larga e baixa, a cabine passou por um rearranjo que deu muito mais espaço para todos os ocupantes no entre-eixos de 2,70 m, mas sua lista de itens lhe deixa apenas na média da categoria: estão presentes ar-condicionado digital bizona, airbags apenas para motorista e passageiro, direção elétrica com três níveis de assistência, freios ABS, rodas de liga leve, sensores de estacionamento, sistema de som multimídia e trio elétrico, entre outros. A falta de destaque em equipamentos não melhora com o porta-malas de 421 litros ou o desempenho dos 128 cv de potência e 16,5 kgfm de torque do motor flexível, que lhe conferem desempenho apenas aceitável. Por outro lado, o câmbio manual pode dar lugar ao automático por R$ 4.500, ambos com seis marchas e bom funcionamento – o carro parte de R$ 67.400 e tem à última transmissão como seu único opcional.