Esta é uma daquelas marcas de carro que muita gente conhece, em especial fora da Europa, mas quase sempre muito pouco. As opiniões ao falar de Maserati costumam ser muito positivas mas também sem grandes detalhes, porque logo se lembra que é uma marca pouco difundida. É exatamente isso que os italianos ultimamente começaram a combater, formando um ambicioso plano de firmá-la como uma marca de luxo do mesmo porte das rivais diretas. Um dos passos iniciais foi reinventar o seu maior ponto de constância.
Qualquer investigação pela história deste fabricante vai revelar que a sua vocação inicial eram os superesportivos, tão grande quanto a que motiva marcas como Ferrari e Porsche até hoje. Contudo, estas duas sempre gozaram de fama e reconhecimento inquestionáveis em todo o mundo mesmo entre quem não se interessa por carros, enquanto a Maserati nunca chegou perto desse status de ícone cultural. Parte dessa diferença pode ser creditada à história complicada que teve, com graves problemas financeiros que lhe fizeram trocar de donos até a aquisição pela Ferrari, em consequência pelo Grupo Fiat, que se mantém até hoje. Outra parte é que seus modelos sempre foram muito diferentes entre si, seja em desenho ou em motorização. Evitar as formas parecidas que usam os Lamborghini, as características comuns que usam as Ferrari ou mesmo o uso dos mesmos nomes por décadas como os Porsche deu à Maserati a liberdade para criar uma série de modelos que fascinam cada um por si só, mas não lhe permitiu criar uma identidade tão forte como a das rivais. Como hoje em dia a marca quer expandir suas vendas a ponto de competir em pé de igualdade com o trio alemão, tarefa imprescindível é a de difundir a própria imagem em meio a esse público tão exigente.
Poucas semanas atrás se viu a reedição do Ghibli, trocando a carroceria cupê por três volumes projetados com a meta específica de virar um legítimo sedã médio de luxo. Mas quem merece atenção ainda maior é o Quattroporte, pelo fato de ter sido o único Maserati regular ao longo das décadas. Sua primeira geração foi lançada em 1963, numa época em que a marca estava com os pedidos em alta e quis expandir a oferta a um sedã de luxo, sempre com as quatro portas que lhe dão o nome. A segunda chegou cinco anos depois do fim da anterior, e precisou compartilhar partes com os Citroën porque esta era a dona da Maserati na época: o italiano terminou usando suspensão hidropneumática, tração dianteira e até a plataforma do Citroën SM, mas teve suas vendas abaladas pela crise do petróleo. Como mais tarde a marca passou às mãos da De Tomaso, o terceiro Quattroporte surgiu em 1979 com certos parentescos de projeto com o Longchamp – essa fase teve a particularidade de ter usado o logotipo “4porte” por três anos e a de ter recebido uma versão de luxo ainda maior produção artesanal, chamada Royale. A quarta geração deu as boas-vindas às tendências de estilo dos anos 90 virando uma versão quatro-portas do Ghibli de segunda geração, e em 1997 recebeu um conjunto de melhorias sob o nome de Quattroporte Evoluzione – por sua vez, uma obra da gestão Ferrari.
Os tempos de calmaria vieram para este sedã já nesta geração, que ainda esperou três anos até a vinda da sucessora, em 2004. Desde essa fase é fácil de notar que a marca pôde se dedicar mais do que nunca a aperfeiçoar a mecânica do que virou seu carro-chefe, formando um conjunto de qualidades que na geração atual, lançada em novembro último, colocam o Quattroporte entre os sedãs mais rápidos do mundo – mérito que só aumenta ao lembrar que se tratam de 1.900 kg distribuídos em 5,26 m por 1,94 m, com entre-eixos de 3,17 m. Você pode conhecer mais detalhes deste sedã no artigo do seu lançamento mundial, mas a versão brasileira chega apenas na versão topo-de-linha GTS, cujo nível de requinte inclui cabine revestida em couro com detalhes de madeira, central de entretenimento no console e outros itens que formam uma lista quase interminável. Quem condiz com esse nível é o motor 3.8 V8 biturbo, com potência de 530 cv e torque de 72,1 kgfm para levá-lo de 0 a 100 km/h em 4s7 e à velocidade máxima de 307 km/h. A Maserati espera vender de 25 a 30 unidades deste sedã no país e não vai demorar para trazer também o novo Ghibli, cujo lançamento mundial se fez no mês passado. Em breve os dois contarão com a primeira loja própria da Maserati no Brasil, que terá endereço na Avenida Europa, em São Paulo.