Imagine que uma parte dos compradores de picapes se encontra em um impasse. Mais especificamente, indecisa entre levar uma compacta carregada de equipamentos ou, por preços parecidos, levar o tamanho maior e o motor mais forte de uma média mas em versão de entrada. Agora imagine que uma empresa se vê com a necessidade de aumentar as vendas de seu produto, especialmente nas versões menos comuns. Seja lá qual dessas situações pareça a você a que acontece de verdade, a nova versão da Ranger quer ser a solução para ambas.
Várias vezes se comenta que cada país tem seu próprio conjunto de preferências quando se fala em carros. Isso é uma questão muito importante para as montadoras especialmente nos maiores mercados, porque é muito comum que sua influência sobre os clientes seja maior até que a das próprias características dos produtos – isso traz um déjà vu bem amargo a quem tentou vender carros de quatro portas no Brasil até a década de 1980. Picapes, por exemplo, agradam aos norteamericanos quando são grandes e aos australianos quando são derivadas de carros de passeio. As médias têm boa fama tanto no Brasil quanto em alguns países asiáticos, como a Tailândia, mas nós as tratamos de um jeito diferente, como veículos de certo requinte.
Um dos efeitos que isso provoca é o favoritismo de suas versões de topo: a maioria das picapes que se veem nas ruas está em uma das versões mais caras que sua gama oferece, ao passo que as versões mais simples costumam ganhar uso comercial. O outro é que quem não pode comprar uma média completa para uso urbano acaba levando uma compacta em versão completa – o que, por sua vez, termina provocando nestas últimas um efeito similar. O problema, então, está em quem se situa em cima do muro. Para muitas pessoas, o requinte de uma versão de topo não encontra resposta no conceito de cabine simples, de forma que essa combinação termina com vendas baixas e a consequente desvalorização no mercado de usados.
São fatores como estes que giram em torno da Ranger Sport desde sua edição original, que surgiu com a geração anterior. Seu exterior é diferenciado por protetor frontal, faixas laterais em cinza-escuro, soleiras exclusivas e santantônio, além de adesivos alusivos, e isso lhe ajuda a desviar sua imagem do requinte mencionado para um lado mais jovial, o que combina muito mais com um conjunto capitaneado pela cabine simples. Em paralelo, sua versão de base é a intermediária XLS, em vez das mais caras XLT ou Limited, e isso lhe permitiu o interessante preço de R$ 67.990. Ele é importante porque faz a Ranger distar de suas versões de topo tanto quanto aproximar-se das picapes compactas.
Quanto ao que justifica esta cifra, o primeiro argumento é o motor: enquanto a opção mais potente do “andar de baixo” é a Fiat Strada, com seu 1.8 16v de 132 cv e 18,9 kgfm, a Ranger Sport usa um 2.5 de até 173 cv e 24,8 kgfm. Outros destaques são os itens de série, que incluem ar-condicionado, central de entretenimento com tela de 4,2”, controle de cruzeiro, direção hidráulica, farois de neblina, retrovisores elétricos, sistema multimídia de áudio com conexão Bluetooth e travas elétricas. Por outro lado, esse preço também se justifica com o fato de que a Sport é uma versão fechada, sem opções como câmbio automático, cabine dupla, motor a diesel ou tração integral.