Pode-se dizer que Claude Lobo ficou muito desgostoso da Ford brasileira. Nos anos 1990, o designer projetou o primeiro Ka valorizando a inovação, usando um design tão marcante que “não podia passar por facelifts”… mas o que se viu aqui foi o exato oposto. No entanto, apesar de na Europa ele ter se mantido fiel à receita original, suas vendas de lá foram caindo quase tanto quanto as daqui aumentaram. Depois de muitas especulações sobre qual caminho passaria a seguir, hoje é possível afirmar que ele escolheu o melhor de ambos.
Vender um carro do segmento de entrada com foco muito concentrado na imagem é difícil mesmo em mercados como o europeu. Afinal, seu público-alvo em geral não tem outro carro, e costuma mantê-lo por muito tempo até revender. Então, mesmo em mercados como o europeu, onde os “superminis” são os favoritos de jovens sem família, investir em estilos divisores de opiniões nem sempre traz resultados bons. Quando se passa ao cenário da América Latina, então… Para um público que viaja com ao redor de quatro pessoas, leva volumes grandes e às vezes trafega por caminhos sem pavimento, não é de se estranhar que o primeiro Ka tenha precisado mudar muito para ter alguma chance de sucesso por aqui.
É por isso que ele seguiu caminhos separados em sua segunda geração. Os europeus receberam um modelo novo por completo em 2008, mas que repetia as diretrizes gerais do antecessor. Já a nossa novidade teve um aumento de espaço interno e a adoção de um design mais convencional, e tudo como uma reforma sobre o modelo antigo para não elevar o preço final. Essa estratégia só veio a falhar nos últimos anos, porque os interesses dos clientes começaram a mudar tanto lá como aqui, e a concorrência não hesitou em acompanhar tudo isso. Inclua o plano One Ford, que vem convergindo todos os carros equivalentes da marca ao redor do mundo em um modelo global por segmento, e você começa a entender o modelo deste artigo.
Lançá-lo primeiro no Brasil não foi uma decisão aleatória: assim como o EcoSport, o Ka de terceira geração foi desenvolvido por completo aqui, e mais tarde será produzido também em outros países para atender a dezenas de outros mercados. A influência brasileira aparece no fato de que ele virou um hatchback “regular”, somente com quatro portas e um conjunto capaz não só de recuperar o mercado perdido para carros como Chevrolet Onix, Fiat Palio, Hyundai HB20 e Volkswagen Gol, entre outros, como até mesmo de superar pelo menos alguns deles. Já o lado europeu aparece basicamente em seu DNA: compartilhar a plataforma do Fiesta trouxe muitas evoluções também por dentro, seja em conforto, tecnologia ou segurança.
Entretanto, as fotos já antecipam que o novo Ka passa longe de ser um mero Fiesta em escala menor. Como este último já se firmou no Brasil na categoria premium, a novidade ficou encarregada de agradar àqueles que abrem mão de certos requintes em troca de um conjunto mais racional. É por isso que o Ka traz uma interpretação mais discreta da linguagem de estilo Kinetic, por exemplo: luzes, grade dianteira, vincos laterais e a silhueta em geral, todos são capazes de fazer lembrar dos irmãos maiores. Mas o desenho mais simples que ganharam aqui permite que o modelo agrade muito mais fácil hoje e no futuro (os jargões desta indústria diriam que seu estilo “demora a envelhecer”), e também que seu espaço interno esteja maior do que nunca.
Espaço interno? Sim, isso agora é um argumento de vendas do Ka. Suas novas medidas lhe deixam na média dos rivais, o que é toda uma evolução em relação ao antigo. Porém, se ele é outro que perde nisso para o Renault Sandero, a vingança vem no resto: a qualidade dos materiais não deixa nada a desejar para o padrão da categoria, e o estilo geral é uma versão mais objetiva, mas ainda agradável, do que se vê no Fiesta. Outros destaques são controles de estabilidade e tração (o Ka se tornou o mais barato do Brasil a oferecê-los), sistema de chamada de emergência (após uma colisão, faz uma ligação automática para o Samu do celular do usuário) e o MyFord Dock (nas versões mais baratas, usa o mesmo celular como a tela da central multimídia).
Partindo de R$ 35.390, a versão SE traz comando elétrico para tampa traseira, vidros dianteiros e travas, ar-condicionado, chave canivete, direção elétrica e rodas aro 14” com calotas e pneus ecológicos, entre outros. Já a SE Plus (R$ 37.390) soma central de entretenimento com AppLink, Bluetooth e comandos de voz, sistema de áudio Sync, vidros elétricos traseiros e volante multifuncional. Por fim, a SEL (R$ 39.990) agrega AdvanceTrac, alarme, computador de bordo, itens externos exclusivos, hill holder e rodas de liga leve aro 15”. Trocar o motor 1.0 pelo 1.5 soma R$ 5.000 nos três casos, sem alteração de itens. Como este e o artigo do sedã Ka+ serão complementares, você poderá conhecer mais informações de ambos clicando aqui.