Quando uma marca decide investir em carros diferentes do que costuma oferecer, tanto o público como a imprensa sempre agem com desconfiança, pelo menos no primeiro momento. Afinal, para “subir” no mercado é fundamental construir uma imagem forte, ao passo que a “descida” requer conciliar preço e qualidade. Os dois caminhos são muito difíceis, mas são tão atraentes que mostram tentativas de prosperar com frequência bastante elevada. A outra dupla da Porsche que começou a ser vendida no Brasil é um dos casos que definitivamente “chegaram lá”.
Como são irmãos de projeto, os dois carros deste artigo se encaixam na tal descida que se mencionou. Esta ocorre geralmente quando marcas de luxo procuram lançar modelos mais acessíveis. A intenção é estender sua imagem de sofisticação e qualidade a faixas de preço um pouco menores, para aumentar as vendas, mas é preciso ter cuidado para evitar excessos: se uma marca dessas passa a vender demais, seus produtos se tornam banais e a tal imagem superior simplesmente se perde. A Porsche chegou a correr esse risco em 1996, quando lançou o primeiro Boxster: como era um produto novo e situado abaixo do 911, ocupava naturalmente o posto de modelo de entrada – numa época em que isso ainda não era nada comum para empresas de alto luxo.
Porém, o passar dos anos permitiu ao modelo mostrar que tinha mais atrativos que o design inspirado em clássicos como 356 Cabriolet e 550 Spyder. Seu conjunto mecânico era moderno, e chegava justamente no final do processo da Porsche de abandonar os motores refrigerados a ar – o último 911 com eles, da geração 993, foi descontinuado em 1999. Com isso, o Boxster ajudou a marca a se voltar de vez aos novos tempos. Como o carro-chefe não podia parar de evoluir, o irmão menor ganhava cada vez mais espaço para formar sua própria clientela. Esse trabalho em conjunto deu tão certo que a Porsche pôde tanto manter a versão conversível do 911 como estender o conjunto do Boxster ao Cayman, em 2005, sem criar concorrência interna.
Enquanto os outros atraem por ter capacidades mecânicas tão grandes quanto sua tradição no mercado, a dupla de novatos passou a investir numa proposta mais jovial, para continuar atraindo quem admira a marca mas não chega a poder levar os modelos de topo. No Brasil, por exemplo, seus preços lhes deixam a meio-caminho entre esportivos de marcas generalistas e os chamados “superesportivos”, como o próprio 911. A versão GTS é uma variação bem interessante dessa proposta porque oferece melhorias consideráveis em desenho e performance sem investimentos elevados, o que só lhes torna mais competitivos. Ela chega para o Boxster por R$ 439 mil e para o Cayman por R$ 459 mil, o que são aumentos de 5% sobre as respectivas versões S.
Ambos têm o centro das atenções no trem-de-força: o motor 3.4 de seis cilindros foi retrabalhado para entregar 330 cv no roadster e 340 cv no cupê, resultando em acelerações de 0 a 100 km/h em 4,6 e 4,7 segundos e velocidades máximas de 281 km/h e 285 km/h – sempre com o câmbio automatizado PDK de sete marchas e dupla embreagem, tração integral e o pacote Sport Chrono, que por sua vez adiciona vários ajustes de comportamento dinâmico mais agressivos. Outros destaques são amortecedores de funcionamento adaptativo e vetorização de torque, que aplica cargas de frenagem diferentes em cada roda de acordo com a necessidade. Como se isso não fosse suficiente, eles também impressionam no consumo: 12,2 km/l no ciclo europeu.