Mudanças de legislação costumam provocar verdadeiros rebuliços na indústria automotiva. As montadoras precisam tomar decisões sobre como adaptar suas linhas às novas regras, mas o que traz tantas diferenças para o trabalho que têm em regime normal é a corrida contra o tempo. Obrigar a presença de airbag duplo e freios ABS em toda a oferta nacional já conseguiu derrubar até a “imortal” Kombi, mas o Celta é uma prova de que outros veteranos ainda têm potencial a explorar. Pelo menos na visão de suas marcas.
Recorrer o passado do Celta vai desenterrar em muitas memórias a expressão Arara-azul. Este era o nome do projeto do compacto fabricado em Gravataí (SP), que foi lançado no ano 2000 com todo o mérito de ser o primeiro Chevrolet totalmente concebido no Brasil. Aquela época viu a linha Corsa chegar à segunda geração, que ganhou tanto em porte, requinte e qualidade de construção que passou a ter preço digno de clientes mais exigentes. Abriu-se, portanto, espaço perfeito para um compacto que priorizasse o baixo custo de nascença. O Celta tomou a plataforma do Corsa anterior e apareceu com desenho cativante, completando sua diferenciação com a simplicidade extrema que se justificava pela intenção de ser o carro mais barato do país. Esse foco lhe garantiu o benefício de uma linha de construção muito mais moderna que a dos outros Chevrolet da época, para reduzir os custos de produção e manutenção, além de se restringir às duas portas (cujo desenho foi inspirado no Tigra da época). O problema, no entanto, foi que ele nunca conseguiu derrotar os preços do Fiat Mille na versão básica, e menos ainda com o fato de o público ter preferido equipá-lo mais, em especial com a linha de acessórios de estilo oferecidos pela marca. Esse gosto inesperado motivou uma mudança de foco da Chevrolet, que decidiu então começar a investir no carrinho.
Sua linha de acessórios aumentou, a opção das quatro portas chegou e depois veio uma solução muito similar à usada no Corsa antigo: a nova proposta do Celta se formalizou com a vinda do motor 1.4 em versões mais equipadas, incluindo uma incursão entre os pseudo-aventureiros com o kit Off-Road. A reputação que ele começou a construir só melhorou em 2006, quando o bom gosto de seu primeiro facelift foi acompanhado do sedã Prisma. A ideia era completar a troca de modelos de entrada, mas os anos mostraram que a novidade não conseguiria fazer frente ao Corsa Sedan em suas versões mais caras e nem ao Classic nas mais baratas. O resultado é que o hatchback chega sozinho ao que deve ser sua última mudança, pelo menos nesta geração. Adotada em 2011, a grade dianteira agora traz bordas cromadas e as colunas B dos quatro-portas ganharam revestimento preto, além da chegada da cor cinza Sand das fotos. No interior, a lista de novidades também inclui um novo porta-objetos dianteiro, mas sua maior novidade é mesmo a vinda de airbag duplo (que motiva a troca do volante pelo novo que estreou nos Classic que trazem o mesmo item) e freios ABS, como partes de um kit opcional que inclui o ar-condicionado por R$ 2.300 para a versão LT, que com isso chega a R$ 31.490.