Grande demais, quadrado demais, gastador demais… Nosso mercado nunca teve dificuldade em expressar com clareza as opiniões que forma sobre carros. Porém, engana-se quem pensar que esses rótulos só se espalham rápido por causa das redes sociais: antes não se usava mais que conversas de bar e oficina, mas foram essas que chegaram a pérolas como “Cachacinha”, “Zé-do-Caixão” ou “Cornowagen”. O sedã da Renault se renova para acabar com o pensamento de que ele só se deu bem aqui porque os anos 50 a 80 já passaram.
Conceber um veículo envolve trabalhar com aspectos racionais e emocionais. Por melhores que venham a ser as características técnicas de um lançamento, fabricante algum deve considerar que “isso resolve tudo” porque não é assim que o cliente se comporta. Ele se encontra suscetível a toda a infinidade de fatores que rodeiam sua vida cotidiana, de forma que ela sempre vai exercer influência forte nas suas decisões. O terceiro apelido citado no parágrafo anterior, por exemplo, foi aplicado à versão do VW Fusca com teto solar, que apareceu logo nos seus primeiros anos de Brasil. O equipamento funcionava bem e trazia toda a ludicidade que sempre se aproveitou na Europa, mas foi rejeitado pelo público exclusivamente por causa do medo de associar a si o título que o apelido sugere.
Claro que a situação do Logan nunca chegou nem perto disso (muitos donos do tal Fusca terminaram mandando fechar o teto), mas a sua imagem sofreu, sim, alguns impactos negativos. Afinal, a concepção original da Dacia previu um veículo simples e prático cujo único foco era oferecer espaço para famílias grandes ao menor custo possível. Não que tal pragmatismo careça de valor – muito pelo contrário –, mas o fato é que o brasileiro não o aceita. Nossas preferências para carros baratos são outras, simplesmente. Isso foi o que relegou o três-volumes a encontrar apoio nas vendas para taxistas, além das famílias que lhe compraram nas versões de base. Ele nunca conseguiu se aventurar por mercados de maior valor agregado porque nunca teve imagem para isso, apesar de ter a série de qualidades técnicas que tem.
Por outro lado, as exclusividades visuais que o Sandero trouxe, e o subsequente incremento de vendas que veio a ter, permitiram à Renault compreender melhor o que agrada nesta parte do mundo. É por isso que a nova fase da dupla foi projetada com atenção muito maior aos tão falados aspectos emocionais, na verdade. O projeto Dacia foi feito desde o começo levando em conta a variação destinada à Renault, e esta última ainda teve mais algumas mudanças exclusivas para a América Latina, em especial o Brasil. Também é necessário esclarecer, no entanto, que esta renovação é apenas um redesenho profundo do mesmo projeto. Toda a parte técnica foi aproveitada dos antecessores, mas com o objetivo de criar economia suficiente para permitir mudar o design por completo sem que as novidades precisassem ficar mais caras a ponto de subir de categoria.
Com isso, nosso Renault Logan tem algumas diferenças ao que lá fora também é oferecido como Symbol, tudo para continuar convergindo ao objetivo de ficar tão atraente quanto os rivais diretos – leia-se Chevrolet Cobalt e Nissan Versa, além de Fiat Grand Siena, Ford Fiesta Rocam e VW Voyage. O novo sedã repetiu o equilíbrio de formas de antes, que mascara seus 1,52 m x 1,73 m x 4,35 m com um conjunto de muito bom gosto. Discreto como sempre, mas mais agradável aos olhos do que nunca. Ele não tenta dar impressão de luxo ou esportividade, mas sim principalmente de solidez. Esse é o valor que se exalta com os elementos em forma de retângulo com cantos irregulares e com os vincos em quantidade e tamanho comedidos.
Porém, não se pode negar que as nossas exclusividades – desenho do parachoque dianteiro e apliques cromados nas lanternas – também lhe caíram muito bem. É essa boa impressão que ele procura continuar no interior. Suas intenções foram a de manter a fartura de espaço que fez sua fama até então ao mesmo tempo que incorpora uma sugestão de requinte. A versão de entrada chama atenção tanto por bem (com revestimento exclusivo) como por mal (os bancos têm encostos de cabeça fixos), mas já era de se esperar que o papel de impressionar ficasse com a de topo: agora o Logan chega a ter revestimento completo em dois tons, aliando preto e creme outra vez a uma quantidade correta de cromados para criar um ambiente muito bonito. Não chega a lembrar carros de luxo, mas certamente o afasta da realidade da categoria de entrada.
Tudo isso começa em R$ 28.990, na versão Authentique 1.0. Esta traz de série airbag duplo, brake-light, freios ABS com EBD e travas elétricas, entre outros. Já a Expression soma alarme, ar-condicionado, detalhes externos na cor da carroceria, direção hidráulica, repetidores da luz de seta nos retrovisores, sistema de som e vidros dianteiros elétricos, custando R$ 33.990 com motor 1.0 e R$ 39.440 com o 1.6. Por último, a topo-de-linha Dynamique 1.6 agrega banco traseiro bipartido, controle de cruzeiro, farois de neblina, rodas de liga leve aro 15” e completa o trio elétrico, por R$ 42.100 – a última se destaca por oferecer ar-condicionado automático e sensor de estacionamento traseiro como opcionais, além da central de entretenimento Media NAV que também pode equipar os Expression e um exclusivo kit Sport de acessórios visuais. O 1.0 Hi-Power é o mesmo do Clio, com 77/80 cv, enquanto o motor 1.6 Hi-Power gera 98/106 cv (gasolina/álcool).