Substituir um carro é uma tarefa que quase nunca escapa de ser difícil. Se o antigo fundou imagem forte, o novo precisa recorrer a valores diferentes. Se o antigo passou despercebido, chegou a hora de tentar aparecer. Se ele vendeu bem, a tarefa é reter a clientela. E se um foi malsucedido, o outro não pode repetir seus erros. Ter três modelos só na linha de entrada pode parecer uma estratégia confusa, mas contra a hegemonia de vendas da Fiat brasileira é difícil argumentar. Será que o passo de agora ajuda a manter essa direção?
Tirar o Mille de linha era algo que deveria ter acontecido desde 1996, com a chegada do primeiro Palio. Afinal, nessa época nossas montadoras estavam renovando suas linhas a todo vapor para resistir à chegada dos modelos importados, e os degraus mais baixos não eram exceção. Porém, o fato é que a união de confiabilidade e preços baixos defendeu o veterano tão bem que ele não só sobreviveu como defendeu seu espaço com unhas e dentes: a Fiat tentou duas vezes, mas nenhuma desviou a atenção dos clientes do que nasceu como Uno Mille, em 1990. É de se imaginar que esse efeito só não foi contido porque resultou positivo: se tanto Palio Fire como novo Uno agradaram sem afetar Mille e Palio, a única explicação é que tenham angariado clientes novos.
Isso, então, tornou-se a razão que motivou oferecer quatro carros ao mesmo tempo numa faixa de preço que até dez anos antes se enfrentava com versões de um só. Esse cenário só veio a mudar no mês passado por causa das já famosas mudanças nas leis do Contran. Todos os outros populares da Fiat receberam airbags duplos e ABS de série, mas o Mille foi vítima da idade de seu projeto. Portanto, a situação passou a ser decidir com qual modelo tentar reter a clientela do veterano. Como o novo Uno é mais moderno e ainda goza de prestígio pela imagem, a missão recaiu sobre o que se tornou o Fiat mais antigo em produção no Brasil. É ele que agora se despe de todo e qualquer traço de requinte para se tornar o novo zero-quilômetro mais barato do país.
Porém, engana-se quem pensar que ele assumiu este posto de cabeça baixa. Para o exterior só vieram nova grade dianteira, novas calotas e farois cromados por inteiro (sem máscara negra), mas a cabine mudou mais. Era de se esperar que viesse o mesmo painel aplicado em Idea, Palio Weekend e Siena EL até mesmo para criar economia de escala, mas a Fiat preferiu criar uma versão simplificada para o hatchback. Não que seus comandos circulares tenham combinado bem com as linhas retas originais (esse painel estreou com o Palio de 2004), mas abandonar um conjunto de catorze anos de idade foi bom – e ainda lhe trouxe porta-copos pela primeira vez. Em paralelo, o quadro de instrumentos foi emprestado do Uno, e troca o conta-giros pelo famigerado econômetro.
De resto, bancos e paineis de porta trocaram de revestimento e o volante agora é o que a linha Palio de primeira geração deixou de usar meses atrás – o antigo não abrigava airbag. Falando nisso, sua lista de itens de série teve a adição de airbag duplo e freios com ABS e EBD, mas ainda não representa nenhuma surpresa para a categoria: alguns deles são parachoques na cor do veículo, relógio digital e vidros verdes. A lista de opcionais, por sua vez, continua oferecendo ar-condicionado, direção hidráulica, travas e vidros elétricos e sistema de som multimídia, sem conexão Bluetooth. Com o mesmo motor 1.0 Fire de sempre, o Palio Fire continua gerando até 75 cv e 9,9 kgfm. Ele parte de R$ 23.990 com três portas e de R$ 25.990 com cinco.