Várias vezes se comentam os defeitos dos carros chineses, mas mesmo os detratores mais incisivos precisam admitir que essas montadoras são persistentes. Os veículos podem não ser expoentes em estilo, pós-venda ou resistência, mas o fato é que seu típico custo/benefício de destaque só passou do encanto inicial entre nós porque elas estão se esforçando na adaptação aos nossos gostos. Primeiro com motores flex e mais tarde com fábricas nacionais, mas agora o momento é de uma escolha de modelos bem mais apropriada.
Pode-se dizer que a Chery foi uma das primeiras chinesas a ganhar mais destaque no Brasil. Enquanto a JAC apostou na publicidade pesada, sua conterrânea focou no carisma do QQ, que é seu veículo mais popular na China apesar de sua história de início conturbado. Como o apelo de preço muito baixo é sempre uma fonte de sucesso, em especial por aqui, não demorou muito para chegar não só um irmão de conjunto parecido mas dois: Face e S-18. Porém, quando foi a vez de os mercados mais luxuosos serem desafiados, o crossover Tiggo e a dupla Cielo não chegaram a se sair tão bem. Com isso, agora chega a vez de apostar em outro nicho que vem fazendo muito sucesso aqui: o “segundo nível” de entrada, acima de modelos como Celta, Ka e QQ mas logo abaixo dos premium, como Sonic, New Fiesta e Cielo. A linha Celer fez sua primeira aparição no Brasil no último Salão do Automóvel de SP com planos de ganhar produção nacional em breve, mas por enquanto o foco está no belo conjunto que ele traz como hatchback e como sedã. É uma pena que eles vêm sem o facelift anunciado na China no final do ano passado, mas as perdas na verdade são apenas cosméticas, sem melhorias profundas.
Entretanto, não era apenas com elas que este carro se torna interessante. As linhas do Celer não só atendem o gosto ocidental muito bem como revelam certa preocupação com a esportividade, começando pela dianteira de farois unidos pela grade. As laterais chamam atenção para a linha de cintura que consegue ser elevada sem deixar as janelas muito pequenas e nem dar aquela sensação de área vazia grande demais, graças ao vinco acentuado que divide a carroceria de acordo com o reflexo da luz e termina delineando as vistosas lanternas, que têm porção transparente apenas para o hatch. Um detalhe curioso é que este foi o escolhido para ter silhueta mais conservadora, cuja traseira fastback deixa seu aspecto geral parecido ao do segundo Seat Ibiza. A cabine do três-volumes, por sua vez, tem corte arredondado e que termina numa transição abrupta a um porta-malas retilíneo e de altura mediana. A Chery ganha pontos outra vez pela qualidade do projeto, que incluiu as portas traseiras nas exclusividades de desenho de cada um para garantir maior harmonia visual. Tudo isso ocupa um comprimento de 4,14 m para o hatch e 4,27 m para o sedã, com o entre-eixos de 2,53 m para ambos, além dos respectivos porta-malas de 380 e 450 litros.
Após considerar as medidas que deixam o hatch maior que, por exemplo, o Renault Sandero e o sedã menor que o Fiat Grand Siena, o preço de R$ 35.990 (o sedã custa mil reais a mais) repete a famosa estratégia dessas montadoras no Brasil: vem acompanhado por uma lista de itens que não se encontra com facilidade nos modelos nacionais. A agressiva campanha publicitária já antecipa que esse é o diferencial dos dois em suas categorias, o que se fundamenta com a oferta de ar-condicionado, airbag duplo, alarme, direção hidráulica, freios ABS com EBD, rodas de liga leve aro 15”, sistema de som multimídia e trio elétrico, entre outros. O trem-de-força é sempre composto pelo 1.5 16v bicombustível, que produz 111/116 cv de potência quando abastecido com etanol ou gasolina e sempre usa câmbio manual de cinco marchas. Aos que preferem esperar pela produção nacional programada para os próximos anos (a fábrica da montadora já está em construção), é provável que neste momento ele receba o parachoque redesenhado do equivalente chinês. Por enquanto, a linha Celer já vem com garantia de seis anos e oito opções de cor externa.