As razões que motivam um lançamento de carro podem ser desde poucas e previsíveis até muitas e com origens muito variadas. Entrar em um certo segmento, ampliar participações já existentes, reforçar a imagem da marca ou mesmo associá-la a novos valores… Estudos de mercado de qualidade podem ser caros e difíceis de se realizar, mas são eles que ajudam a definir quais lançamentos têm alguma chance de prosperar. O que dizer, então, de um modelo que chega ao Brasil atuando não sobre uma, mas três vontades diferentes?
Iniciar a atuação de toda uma marca em um país pela primeira vez se torna difícil porque é preciso trabalhar muito na imagem que passará ao cliente potencial. O objetivo principal é passar sensação de qualidade, o que pode se expressar como certeza de operações com estabilidade a longo prazo, para as montadoras de baixo custo, ou ações que lhe deem status o mais parecido possível com o das marcas rivais, o que tem efeitos maiores com as marcas mais caras. Já que a Lexus é uma marca de luxo, sua chegada ao Brasil se fez com três sedãs e um crossover grande. Por outro lado, as maiores concorrentes dessa parte do mercado vêm investindo em ampliar as vendas atraindo clientes mais jovens e da classe média-alta, em especial. A melhor forma de se estender o espectro de preços até englobar esses novos clientes vem se mostrando ser os hatchbacks, que apostam em associar a qualidade de sempre a design mais jovial e motores menores para conseguir preços mais acessíveis. Por outro lado, a única versão na qual a Lexus oferece o seu modelo de entrada desde o lançamento mundial usa propulsão híbrida, de forma que o desembarque do que recebe o nome de CT200h ganha valor por uma terceira razão diferente. Sua preocupação maior com o meio ambiente com certeza vira um excelente argumento para criar dúvidas no brasileiro que até então escolhia entre os recém-renovados Audi A3, BMW Série 1 e Mercedes-Benz Classe A.
Quatro argolas, estrela de três pontas e formato de duplo rim viraram ornamentos realmente muito desejáveis na grade dianteira da maioria dos carros de luxo, mas quem se dispuser a seguir um caminho diferente não vai se decepcionar a bordo do CT. Suas linhas seguem o estilo “europeu com traços japoneses” que caracteriza a Lexus e suas arquirrivais há tempos, mas mesmo neste hatchback conferem elegância: não existem cromados em excesso, farois e lanternas não são grandes demais e o conjunto inteiro passa impressão muito boa, deixando como toque mais ousado a forma da coluna C. Assim como no Peugeot 308, ela ficou mais avançada para que o vidro traseiro envolva parte das laterais do carro. O que se consegue com isso é esportividade aliada à leveza visual, porque o carro disfarça a silhueta comum de hatchback em duas maneiras: o final das laterais simula um terceiro volume reduzido como o dos cupês, ao passo que a transição arredondada da coluna ao final do teto maximiza o efeito visual do spoiler traseiro. A diferença do francês que o CT exalta com veemência é a espessura da tal coluna C, maior até que a do VW Golf: seu formato triangular se consegue sem deixar as portas traseiras muito pequenas porque reduz o tamanho das janelas. Nesse quesito é preciso admitir que o japonês é bem mais ousado que os rivais diretos.
Entrar neste carro pode não arrancar suspiros pelo desenho de seus elementos, mas não há dúvidas de que a sensação de qualidade se mantém. Seu projeto deu atenção especial a manter o centro de gravidade baixo, colocando o sistema elétrico em posição central para obter a melhor distribuição de peso possível. O console central tem estilo envolvente, com a maioria dos comandos voltados ao motorista, mas seu poder de sedução está mesmo é na tecnologia: seus itens de série incluem airbags frontais, laterais e de cortina, central de entretenimento com tela de 8”, câmera de ré, DVD player e conexão Bluetooth, controles de estabilidade e tração, sistema de som multimídia com dez alto-falantes e dois tweeters e freios a disco ventilados nas quatro rodas com ABS e EBD, por R$ 149.000 – ele também traz a versão F-Sport, que por R$ 157 mil adiciona acessórios de estilo e novos ajustes de direção para privilegiar a esportividade. Seu sistema híbrido é toda uma boa notícia à parte: o CT200h aproveita que sua marca é uma divisão da Toyota e repete o propulsor do Prius, que combina o motor elétrico de 82 cv a um 1.8 16v VVT-i de ciclo Atkinson que usa gasolina para gerar 99 cv, usando câmbio CVT. Este carro pode rodar em modo 100% elétrico até 45 km/h, ao passo que combinar os dois motores lhe deixa com 136 cv para garantir aceleração de 0 a 100 km/h em 10s3 e máxima de 180 km/h.