Várias vezes se comenta, em forma direta ou indireta, que o sucesso dos chineses no exterior só não se consolida mais por causa da estratégia que a maioria dessas montadoras decidiu usar. Além de resultar quase sempre em produtos de qualidade inferior, o foco no baixo custo as fez exportar os mesmos carros vendidos na terra natal, cujo design quase nunca agradou ao Ocidente. Essa situação só começou a mudar nos últimos anos, com as iniciativas mais profundas de agradar aos novos clientes. É o caso da renovação dos JAC J3.
Pode não parecer, mas esta linha passa por seu primeiro facelift apenas dois anos depois da chegada ao país. Trata-se da metade do tempo que as demais montadoras esperam, mas o fato é que a JAC precisava mesmo tomar medidas de recuperação. Os J3 já chegaram com atraso, porque na China são vendidos como Tongyue desde 2009. Sua trajetória começou bem porque a marca complementou o já típico pacote completo a preço baixo com publicidade bem incisiva, mas mesmo assim esse conjunto já mostrava alguns contras. O problema foi que o aumento do IPI deu peso maior aos tais deslizes: esse aumento repentino de preço anulou a proposta de baixo custo da qual os chineses dependem tanto, e com isso os clientes passam a ficar mais exigentes. Foi por isso que deixaram de fazer vista-grossa a aspectos como o desenho de gosto duvidoso, o interior de aparência empobrecida e a própria origem dos carros, que até então ainda não contava com nada que trouxesse segurança real ao cliente brasileiro a médio e longo prazos. Essas razões foram uma parte do que motivou a JAC a investir rápido em novidades como motor flex, aumento da linha tanto para baixo (com o J2) como para cima (com o futuro caminhão leve) e até a construção de fábrica no Brasil. O passo seguinte é um bom exemplo da fase secundária dessa investida das montadoras chinesas no estrangeiro.
Enquanto a Chery reduziu suas marcas de baixíssimo custo e agora se esforça em criar uma de luxo com grande foco na Europa, a JAC vem se esforçando para agradar o brasileiro. As mudanças externas não causam surpresa alguma, mas isso não deixa de ser muito bom: os J3 ficaram mais integrados às tendências atuais dos carros compactos deste lado do mundo – além dos vistosos elementos que tornam a dianteira elegante, o sedã Turin também mudou a traseira, cujas lanternas se espelham nos rivais e invadem a tampa do porta-malas. Mas, como a JAC faz questão de ressaltar, as novidades são mais profundas. Incluem a cabine totalmente refeita, com ótimo gosto para console central, quadro de instrumentos (que finalmente perdeu o aspecto de popular dos anos 90) e volante, além da melhoria na qualidade dos materiais e dos encaixes de peças. Em momento algum se passa a ideia de luxo, mas sim de carros que realmente valem os R$ 35.990 e os R$ 37.990 pedidos por hatchback e sedã, na ordem. A marca ainda informa que se fizeram mudanças em câmbio e suspensão, mas o resto do veículo continua intacto. Ou seja, assim como sua lista de itens de série, o motor 1.4 16v continua movido apenas a gasolina, gerando potência de 108 cv e torque de 14,1 kgfm. Mas o hatchback mantém sua versão J3 Sport, com o 1.5 16v flexível de até 127 cv.