Analisar a história da Volkswagen revela que ela costuma concentrar a maior parte das vendas em poucos carros. Ela até entra em segmentos novos, mas sempre dependeu mesmo é de Fusca, Gol, Golf ou Passat, de acordo com a época e o país. É uma estratégia interessante, sem dúvida, mas que termina trazendo dificuldade extra quando seus “arrimos” precisam mudar. É o caso da novidade daqui, que faz valer mais uma vez uma frase cunhada pela própria VW. “Às vezes, o avanço tecnológico de uma empresa não está no que ela faz, mas no que deixa de fazer”.
Quando se falou que o up! teria no Brasil o mesmo papel que sua versão europeia, a primeira reação foi de susto. Afinal, enquanto os carros pequenos de lá atendem a pouco mais que um nicho de mercado, aqui eles merecem o título de “populares” tanto pelo preço baixo como pelo subsequente volume de vendas elevado. E o tal susto veio justamente disso, porque a porção desse volume pertencente à VW é justamente a maior de todas. Trocar o carro com o qual ela compete nesta categoria significaria tirar uma parte da linha Gol, que lidera as vendas brasileiras desde 1987. Mais especificamente a variação “G4”, que por vir dos anos 1990 (sua fase inicial foi o “Bolinha”) teria dificuldades em cumprir a já famosa obrigatoriedade de airbag duplo e freios ABS.
Mas basta uma observação mais atenta para concluir que a atitude dos alemães não foi tão tresloucada assim. Por mais que as vendas do veterano venham se mantendo firmes ano após ano, mesmo sua geração atual já começa a sentir os efeitos do tempo, situação que só tende a piorar. Mas quando se fala em mudá-lo por inteiro outra vez, cedo ou tarde, esbarra-se no problema de que fica cada vez mais difícil vender um projeto novo aos preços que a categoria de entrada impõe. Em paralelo, a VW sabe que o Gol construiu carisma suficiente para vender bem em versões um pouco mais caras. A solução que se adotou, então, é um exemplo de “dividir para conquistar”: já que o Gol deveria se especializar no “segundo degrau”, era necessário um outro modelo para focar apenas na linha de entrada.
Este foi o convite brasileiro para o up!. Os alemães acabaram criando um exemplo a seguir, colocando um carro novo por completo em uma subcategoria que até então só recebia variações simplificadas de projetos defasados. Ele mereceu uma plataforma exclusiva, a NSF, mas seu projeto precisou de algumas alterações para satisfazer os compradores brasileiros. Trata-se da velha questão de os populares serem vistos aqui como carros de família, ao passo que na Europa eles costumam ter uso individual. O compacto trocou as janelas traseiras, que agora podem descer em vez de rebater; ganhou tampa do porta-malas com parte em aço em vez de toda em vidro, para reduzir custos; e teve tanto entre-eixos como toda a traseira “esticados”, para aumentar o espaço interno.
Como as imagens indicam, nada disso descaracterizou o up!. Ele é um caso muito interessante porque conseguiu fugir da tendência de estilo que a VW aplica com tanta rigidez a seus modelos. As superfícies limpas e as linhas retas continuam lá, mas associadas a desenhos exclusivos de dianteira e traseira. Ele parece um VW tanto quanto qualquer Polo ou Golf, mas também mostra um ar de jovialidade que combina muito bem com o que ele oferece. O único senão vai para as alterações exclusivas do produto brasileiro: ganhar 64 litros em porta-malas (somando 285 L), quinze no tanque (indo a 50 L) e acomodar o quinto ocupante são melhorias importantes, mas é inegável que esticar a traseira de um carro tão retilíneo lhe fez parecer um pequeno furgão.
Um detalhe muito interessante é como a cabine consegue refletir bem os valores exaltados pelo up!. Em vez de sobrepor tentativas de aparentar luxos com os quais ele na verdade não se importa, o que se vê são linhas simples e de bom gosto. O painel chama atenção pelo uso de dois tons e pelo console central diminuto, que nas versões mais caras divide a atenção com uma tela de LCD acima de si. O revestimento estilizado dos bancos “oneshape” procura disfarçar que seu encosto é inteiriço, o que impede regular o apoio de cabeça em forma individual. Por outro lado, nos demais aspectos ele se mostra na média da categoria. Algumas de suas exceções positivas são as notas elevadas em testes de consumo, facilidade de reparo e proteção em caso de acidente. Mais tarde ele ganha a opção de duas portas nas versões mais baratas.
Como era de se esperar, seu motor é o 1.0 12v de 75/82 cv estreado no Fox BlueMotion. As versões começam com a take up!, que parte de R$ 28.900 e traz de série apenas itens básicos e rodas aro 13”. Seus opcionais incluem ar-condicionado, CD player com Bluetooth, direção elétrica, rodas aro 14” e travas e vidros elétricos. Passando à move up! se começa em R$ 30.300, e à lista de série da anterior se somam painel na cor bege, conta-giros, computador de bordo, predisposição para som e rodas aro 14”. A lista de opcionais inclui alarme, bancos de couro e central multimídia com o navegador maps & more. Já a high up! parte de R$ 34.990, e soma aos itens de série de antes direção elétrica, trio elétrico, painel na cor externa e rodas de liga leve aro 15”, tendo como opcionais o que sobrou da lista anterior.