Por maiores que fossem as expectativas, ninguém ainda sabia o que exatamente deveria esperar da VW. Só se sabia que a primeira realização da famosa avant-première do Grupo Volkswagen na véspera do Salão do Automóvel estava reservando algo grande para nós, porque esse evento só se faz antes das exposições automotivas mais importantes do mundo. Pois se a estreia mundial acabou ficando para o Anhembi, quem se expôs hoje foi a versão com duas portas a menos do Gol, que já é um dos VW mais vendidos do mundo.
Quem ficou a cargo da apresentação oficial do modelo foi Martin Winterkorn, o presidente mundial da marca. Porém, mesmo os não tão interessados pelo mundo dos carros sabem que a importância dessa versão tem mais relação com as vendas que dá do que pelo produto em si. A atual geração do Gol foi projetada apenas com quatro portas, mas elas serviam bem apenas a ele e ao sedã Voyage. O truque que permitiu reduzir custos com bons resultados visuais foi ter lançado a nova Saveiro antes do Gol 2p, num caminho inverso ao que se fez com a fase anterior da família: as portas dianteiras do Gol 4p resultaram muito estreitas para a picape, e isso prejudicou seu visual. Então, dessa vez fizeram as portas maiores pensando na Saveiro de início, e com isso chegaram a um tamanho e formato que mais tarde também ficaria bom no Gol 2p. Esse raciocínio tão sinuoso se fez necessário não só para conseguir melhor resultado estético como para reduzir custos, porque em carros populares o maior apelo de uma versão assim é o menor preço final. Isso também explica por que a versão ficou tão parecida com o anterior: quaisquer mudanças como recortar a traseira em outra forma ou mudar parachoque e lanterna convergeria a um preço final inconcebível para o mercado do Gol. Então a opção foi por alterar o mínimo possível da estrutura, em estratégia parecida à da Fiat com o Uno.
Sendo assim, se o modelo original já era bem resolvido, não seria o duas-portas que quebraria a harmonia do estilo da carroceria ou a ditadura da dianteira e traseira excessivamente parecida entre quase todos os VW atuais. Além disso não há muitas diferenças a esperar, sendo a maior delas é o acesso naturalmente mais difícil ao banco traseiro, mas cuja redução de R$ 1.300 em relação às respectivas versões quatro-portas que se torna interessante para quem não costuma levar mais de um acompanhante. O modelo parte de R$ 26.590 e traz de série vidros elétricos e travamento central, mas continua perdendo para os rivais ao oferecer airbag duplo e freios ABS apenas como opcionais. Ao menos neste primeiro momento, o Gol duas-portas repete todas as versões atualmente oferecidas para o 4p, o que inclui motor 1.6 e câmbio I-Motion, mas o mercado brasileiro se encontra muito diferente de quando o Gol esteve no auge: nos anos 80 sua primeira geração nunca se preocupou com as portas extras porque o público dessa época tinha uma estranha rejeição a elas. Já a fase “bolinha” viu a mudança de hábitos dos anos 90, em que a única forma de manter as boas vendas era curvar-se à preferência agora influenciada pela praticidade de modelos como sedãs e minivans, que na verdade dura até hoje. Sendo assim, é de se esperar que em um ou dois anos ele se adapte à demanda perdendo algumas versões e ganhando outras – isso pode incluir a reedição do Gol GTi.